Às vezes, gosto de sentar e escrever versos:
versos de reminiscências, versos de dores a descobrir.
O poeta escreve para não morrer
ou, por medo de morrer, escreve o que é
ou sobre o que foi ou jamais virá a ser,
sempre... sempre sob o cunho do medo.
Pensei no maestro do Brasil e,
“jobiniando”, em sua deep bossa,
vi recortes de mim na carta ao Tom 74.
Nunca fui mulher de sol, “garota de Ipanema”.
Sou daquelas que, de madrugada, levanta como Adélia,
com sede, falando de amor e pesadelos,
repleta de uma humanidade grávida de sensações, quase “wave”,
compelida a ser um vaso.
O poeta guarda sempre uma pequena ferida,
uma insensatez no dizer das palavras em flor
abertas ... ou fechadas em fendas de luz, suores ou matizes.
Vejo, daqui, desta janela-poema, o paralítico Corcovado!
A lembrança, de meu pai e do passado, ressoa como os sinos das igrejinhas,
como as sirenes dos navios e das barcaças... gargalhadas que não voltam mais!
Mas... “chega de saudade!”, grita meu coração.
O samba da vida é samba de uma nota só.
Oh, Deus! Queria poder guardar os teus rebanhos, mas o tempo...
o tempo sucumbe.
Jacqueline Barros - Niterói, 29 de outubro de 2007.